sexta-feira, agosto 29, 2003
Tendências Chic fintam o Tuga II
A mesma senhora do post anterior refere também que roupa com a marca à mostra é do mais pindérico que se pode usar nesta terra. Felizmente, já venho a prever isso há uns tempos e só me resta meia dúzia de silhuetas de patos e cavalos, relativamente discretas, para me envergonhar.
Outras pormenores que denunciam sem apelo o Tuga desambientado:
- T-shirts de destinos de férias indicam automaticamente um turista; se forem de Punta Cana, Nordeste Brasileiro ou Hard-Rock Café, o turista é português;
- O conceito de camisas com ursinhos é aqui completamente desconhecido (sempre me pasmou por que acrobacia de marketing é que a Sacoor as conseguiu impingir ao macho português), todavia em certos meios consegue-se vislumbrar um equivalente aproximado constituído por camisas igualmente folclóricas mas com um laçarote cor-de-rosa;
- Timberland, Lacoste e Tommy Hilfiger só se vêm nos grupos de rap das cités, nos dreads que sonham em ter um grupo de rap e, claro, nos turistas portugueses;
- Em França a Pull & Shark só é vendida a maiores de 65 mediante apresentação de documentação comprovativa; em alternativa é aceite o Bilhete de Identidade ou Passaporte português, não havendo neste caso lugar a condicionalismos etários;
- Quando num jardim, no fim de semana, com quarenta graus à sombra, aparece um gajo embrulhado em roupa da cabeça aos pés, ou é um terrorista islâmico ou um turista português; o segundo distingue-se por ter a barba feita e uma namorada que vem ver museus e monumentos vestida como se tivesse acabado de sair da Casa do Castelo ou do T... perdão... do Spicy;
- Sapatos de vela, fora dos sítios onde se faz vela, só nos pés dos velhos, dos pedintes, dos turistas portugueses e, por vezes, nos meus.
Outras pormenores que denunciam sem apelo o Tuga desambientado:
- T-shirts de destinos de férias indicam automaticamente um turista; se forem de Punta Cana, Nordeste Brasileiro ou Hard-Rock Café, o turista é português;
- O conceito de camisas com ursinhos é aqui completamente desconhecido (sempre me pasmou por que acrobacia de marketing é que a Sacoor as conseguiu impingir ao macho português), todavia em certos meios consegue-se vislumbrar um equivalente aproximado constituído por camisas igualmente folclóricas mas com um laçarote cor-de-rosa;
- Timberland, Lacoste e Tommy Hilfiger só se vêm nos grupos de rap das cités, nos dreads que sonham em ter um grupo de rap e, claro, nos turistas portugueses;
- Em França a Pull & Shark só é vendida a maiores de 65 mediante apresentação de documentação comprovativa; em alternativa é aceite o Bilhete de Identidade ou Passaporte português, não havendo neste caso lugar a condicionalismos etários;
- Quando num jardim, no fim de semana, com quarenta graus à sombra, aparece um gajo embrulhado em roupa da cabeça aos pés, ou é um terrorista islâmico ou um turista português; o segundo distingue-se por ter a barba feita e uma namorada que vem ver museus e monumentos vestida como se tivesse acabado de sair da Casa do Castelo ou do T... perdão... do Spicy;
- Sapatos de vela, fora dos sítios onde se faz vela, só nos pés dos velhos, dos pedintes, dos turistas portugueses e, por vezes, nos meus.
quarta-feira, agosto 27, 2003
Tendências Chic fintam o Tuga
Diz-se na Madame Figaro desta semana que os espaços de inspiração lounge desenhados por clones do Philippe Starck, com cadeiras de 200 contos, muitos pufes, muito cor-de-laranja, muitas coisas redondas, muito design, muito "andar de cima do Lux", estão completamente fora. Fica o aviso para os empresários da noite que, segundo os meus informadores no terreno, estão a copiar o modelo por todo o lado em Lisboa. A senhora também explicou o que era "bem": pelo que eu percebi do conceito trata-se de uma versão sublimada do clássico Tasco.
(Isto é no que dá ler revistas de gaja, mas estava na praia e era o que havia, não se volta a repetir)
(Isto é no que dá ler revistas de gaja, mas estava na praia e era o que havia, não se volta a repetir)
La Baule
Algumas dúvidas levantadas pelo meu caro amigo BJ relativamente à estância balnear que me acolheu este fim de semana:
O teu refinado e eclético gosto leva-te a escolher "mais bela praia do mundo".[...] A julgar pelo [site], a praia parece ser um foco de diversão e loucura. Recomendo que não percas a viagem na máquina do tempo (as babes da página inicial parecem estar a viajar nos anos 80, que look é aquele????), onde é que já se viu um marketing tão mau para "as mais belas praias"?
Este site faz-me questionar sobre o target do mesmos e em que é que pensou o Franciú que, sentado no seu escritório, julgou estar a criar a última maravilha à face da terra. Assim e tendo como única referência a já referida fotografia da página inicial vou tentar definir um pouco o target desta tão acutilante página. Assim o consumidor de La Baule gosta:
- de tempo encoberto;
- de seguir o campeonato Alemão de Halterofilismo Feminino,
- do (bem português) cheiro a campo (o que é que faz dois gaijos jogarem pólo na praia - ainda não ouviram falar do tradicional jogo de raquettes ou daquela parvoice das bolas coloridas que passamos o tempo todo de peida para o ar) devido às cagadelas dos cavalos
- da saudosa Belle Dominique e do Carlos Castro (as babes da foto afinal são gaijos)
Não quero com este e-mail desmotivar os teus 900 Kms, mas pelo sim pelo não leva um bom livro, um baralho de cartas e eu não gastava dinheiro com o Protector Solar.
BJ
Confesso que, a início, as mesmíssimas dúvidas me assaltaram o espírito. Mas a confiança no bom gosto da amiga da Maria Rita que sugeriu o local (afinal, ela trabalha numa agência de viagens...) e uma manifesta falta de alternativas fez-me seguir em frente sem hesitar.
E não é que o raio da praia era mesmo boa? uma baía enorme, lindíssima, limpa, com TGV directo, centenas de catamarãs para alugar, areia branca e fina, bom tempo, mas mesmo assim: não está a abarrotar (de manhã está deserta) e toda a gente tem bom aspecto, até as vendedoras do mercado da fruta são giras!
Eu acho que aquele site é na verdade uma astuta manobra de marketing negativo para afastar as massas. Principalmente pobres, intelectuais de esquerda, imigrantes portugueses, adolescentes anti-globalização, pretos, magrebinos e todos os outros cidadãos de que o francês de gema ("françouillard de base") não gosta mas não diz que não gosta (a não ser quando tem a identidade protegida e vota Le Pen sem medo de destruir a máscara republicana). Só uma campanha cuidadosamente arquitectada para destruir a imagem exterior da cidade consegue manter o estado de graça.
Eu cá estou lá batido assim que tiver outra oportunidade, oh se estou!
O teu refinado e eclético gosto leva-te a escolher "mais bela praia do mundo".[...] A julgar pelo [site], a praia parece ser um foco de diversão e loucura. Recomendo que não percas a viagem na máquina do tempo (as babes da página inicial parecem estar a viajar nos anos 80, que look é aquele????), onde é que já se viu um marketing tão mau para "as mais belas praias"?
Este site faz-me questionar sobre o target do mesmos e em que é que pensou o Franciú que, sentado no seu escritório, julgou estar a criar a última maravilha à face da terra. Assim e tendo como única referência a já referida fotografia da página inicial vou tentar definir um pouco o target desta tão acutilante página. Assim o consumidor de La Baule gosta:
- de tempo encoberto;
- de seguir o campeonato Alemão de Halterofilismo Feminino,
- do (bem português) cheiro a campo (o que é que faz dois gaijos jogarem pólo na praia - ainda não ouviram falar do tradicional jogo de raquettes ou daquela parvoice das bolas coloridas que passamos o tempo todo de peida para o ar) devido às cagadelas dos cavalos
- da saudosa Belle Dominique e do Carlos Castro (as babes da foto afinal são gaijos)
Não quero com este e-mail desmotivar os teus 900 Kms, mas pelo sim pelo não leva um bom livro, um baralho de cartas e eu não gastava dinheiro com o Protector Solar.
BJ
Confesso que, a início, as mesmíssimas dúvidas me assaltaram o espírito. Mas a confiança no bom gosto da amiga da Maria Rita que sugeriu o local (afinal, ela trabalha numa agência de viagens...) e uma manifesta falta de alternativas fez-me seguir em frente sem hesitar.
E não é que o raio da praia era mesmo boa? uma baía enorme, lindíssima, limpa, com TGV directo, centenas de catamarãs para alugar, areia branca e fina, bom tempo, mas mesmo assim: não está a abarrotar (de manhã está deserta) e toda a gente tem bom aspecto, até as vendedoras do mercado da fruta são giras!
Eu acho que aquele site é na verdade uma astuta manobra de marketing negativo para afastar as massas. Principalmente pobres, intelectuais de esquerda, imigrantes portugueses, adolescentes anti-globalização, pretos, magrebinos e todos os outros cidadãos de que o francês de gema ("françouillard de base") não gosta mas não diz que não gosta (a não ser quando tem a identidade protegida e vota Le Pen sem medo de destruir a máscara republicana). Só uma campanha cuidadosamente arquitectada para destruir a imagem exterior da cidade consegue manter o estado de graça.
Eu cá estou lá batido assim que tiver outra oportunidade, oh se estou!
terça-feira, agosto 26, 2003
He who hesitates, masturbates*
Acabo de chegar a casa.
Perante uma eternidade de quase um quarto de hora de indefinição na agenda apresentam-se-me as seguintes opções: lavo a loiça do jantar de ontem? tiro a roupa que está na máquina desde sexta? limpo o pó (essa tinha piada)? faço finalmente o currículo? escrevo alguma das 37 entradas no blog que estão em lista de espera? respondo a algum dos 14 mails prioritários ou dos 3 postais que ainda não consegui despachar? vou andar de patins (que é o que me apetece)? ouço o 3º quarteto do Bartók (que é o único que cabe em tão pouco tempo)? deito-me cedo para poder acordar às 3 da manhã e atirar água aos bifes bêbados que cantam todos as noites na minha rua (não são sempre os mesmos: revezam-se; será que cada um deles tem consciência de que faz parte de uma entidade de constituição dinâmica mas identidade imutável, como as células que se renovam no cabelo)? faço um Jantar em vez de comer sopa knorr, chocapic e banana? tento descobrir, nos meandros do sistema de elevada entropia que é o meu quarto, os pares das meias desirmanadas que me lançam súplicas do canto da lareira? vejo um bocado do filme com a catherine deneuve que está a acabar no primeiro canal? vejo um bocado do filme com a juliette binoche que está a começar no segundo? troco os lençóis do sofá-cama? faço ginástica? passo a ferro? leio?
Merda, passou o tempo...
Como é que será que está a Favela hoje?
*Chip (Jim Carrey), "The Cable Guy"
meus queridos avós, ainda bem que não percebem inglês
Perante uma eternidade de quase um quarto de hora de indefinição na agenda apresentam-se-me as seguintes opções: lavo a loiça do jantar de ontem? tiro a roupa que está na máquina desde sexta? limpo o pó (essa tinha piada)? faço finalmente o currículo? escrevo alguma das 37 entradas no blog que estão em lista de espera? respondo a algum dos 14 mails prioritários ou dos 3 postais que ainda não consegui despachar? vou andar de patins (que é o que me apetece)? ouço o 3º quarteto do Bartók (que é o único que cabe em tão pouco tempo)? deito-me cedo para poder acordar às 3 da manhã e atirar água aos bifes bêbados que cantam todos as noites na minha rua (não são sempre os mesmos: revezam-se; será que cada um deles tem consciência de que faz parte de uma entidade de constituição dinâmica mas identidade imutável, como as células que se renovam no cabelo)? faço um Jantar em vez de comer sopa knorr, chocapic e banana? tento descobrir, nos meandros do sistema de elevada entropia que é o meu quarto, os pares das meias desirmanadas que me lançam súplicas do canto da lareira? vejo um bocado do filme com a catherine deneuve que está a acabar no primeiro canal? vejo um bocado do filme com a juliette binoche que está a começar no segundo? troco os lençóis do sofá-cama? faço ginástica? passo a ferro? leio?
Merda, passou o tempo...
Como é que será que está a Favela hoje?
*Chip (Jim Carrey), "The Cable Guy"
meus queridos avós, ainda bem que não percebem inglês
sexta-feira, agosto 22, 2003
Vamos a la playa!
Nunca fui dependente da praia. Gosto de mar, gosto de sol, gosto de imperial e tremoço conjugados com os anteriores, gosto ainda mais de ver miúdas de biquíni. Não me faz falta a areia, detesto o trânsito para lá chegar, o vento chateia, é-me incompreensível o prazer de passar o dia estendido a assar a crosta. Gosto de lá passar ao fim da tarde, quando os bifes começam a recolher, fazer desporto, ler à sombra, nadar numa perpendicular à ondulação (mariposa até deslocar o ombro, normalmente ao fim de uns 30 metros, depois bruços, depois outra vez mariposa - não gosto dos estilos assimétricos). Enquanto morei em Lisboa nunca, por um único instante, tive realmente pena de não estar na praia.
Estou há 8 meses em Paris. Este fim de semana vou percorrer quase 900 km para passar umas horas num sítio que tenha 2 metros quadrados de areia e uma entrada para o mar, provavelmente gelado, provavelmente sujo, provavelmente lotado de pategos. Vou nadar para fora da área de segurança, onde os pategos não me alcancem, nem as correntes quentes das suas excreções corporais, nem a poluição sonora das suas excreções acústicas, e ficar lá a boiar, sem pensar em nada, nem sequer que a qualquer momento posso ser passado a ferro por um jet ski. Vou gastar 20 contos no TGV e mais não sei quanto em hotel e restaurantes. Vai-me parecer uma pechincha.
Estou há 8 meses em Paris. Este fim de semana vou percorrer quase 900 km para passar umas horas num sítio que tenha 2 metros quadrados de areia e uma entrada para o mar, provavelmente gelado, provavelmente sujo, provavelmente lotado de pategos. Vou nadar para fora da área de segurança, onde os pategos não me alcancem, nem as correntes quentes das suas excreções corporais, nem a poluição sonora das suas excreções acústicas, e ficar lá a boiar, sem pensar em nada, nem sequer que a qualquer momento posso ser passado a ferro por um jet ski. Vou gastar 20 contos no TGV e mais não sei quanto em hotel e restaurantes. Vai-me parecer uma pechincha.
terça-feira, agosto 19, 2003
O Pêndulo de Foucault
Instrumento de uma experiência do séc. XIX para demonstrar a rotação da Terra.
Em Paris há dois: o do Panteão e o do Conservatoire des Arts et Métiers.
O do Panteão é maior, mais bonito, mais imponente. Foi lá a experiência original do Foucault. Não estava lá em 88 quando o livro do Eco foi publicado. Os 7 euros do bilhete permitem ver, além do Pêndulo:
- frescos ilustrando a biografia de franceses importantes (isto é, importantes para alimentar o Culto da Nação);
- uma maquete do Panteão e uma maquete da maquete do Panteão e por aí adiante, recursivamente, ad infinitum;
- uma saída de emergência por onde eu poderia ter entrado à borla se soubesse previamente da sua existência (através de uma arquitectura engenhosa é visível apenas pelo lado de dentro);
- uma quantidade notável de gente morta, incluíndo todos os amigos do Napoleão e os amigos dos amigos do Napoleão e por aí adiante, recursivamente, ad infinitum (o Napoleão, curiosamente, não está lá: desfruta da sua reforma de cadáver nos Invalides, enfrentando solitário as hordas de pongas fotómanos).
Por outro lado, na capela das Arts et Métiers um Pêndulo mais modesto é rodeado por:
- uma réplica da estátua da liberdade onde um curioso se pode esconder se quiser a assistir a um ritual invocatório que eventualmente decorra durante a noite à roda do pêndulo;
- aviões dos pioneiros pendurados do tecto como gigantescos morcegos mecânicos adormecidos;
- todo o ambiente místico de um cemitério de saber, engenho e inteligência;
- e, não esquecer, um magnífico espécime do Spectrum 48K, como acabado de sair da caixa de esferovite, numa sala ali mesmo ao lado.
Surge uma questão.
Se há dois, qual deles está afinal pendurado no Único Ponto Fixo do universo, eternamente imóvel, hã?! Ai o caraças! Os putos depois fazem perguntas difíceis e um gajo fica encravado, perdem-nos o respeito todo!
Em Paris há dois: o do Panteão e o do Conservatoire des Arts et Métiers.
O do Panteão é maior, mais bonito, mais imponente. Foi lá a experiência original do Foucault. Não estava lá em 88 quando o livro do Eco foi publicado. Os 7 euros do bilhete permitem ver, além do Pêndulo:
- frescos ilustrando a biografia de franceses importantes (isto é, importantes para alimentar o Culto da Nação);
- uma maquete do Panteão e uma maquete da maquete do Panteão e por aí adiante, recursivamente, ad infinitum;
- uma saída de emergência por onde eu poderia ter entrado à borla se soubesse previamente da sua existência (através de uma arquitectura engenhosa é visível apenas pelo lado de dentro);
- uma quantidade notável de gente morta, incluíndo todos os amigos do Napoleão e os amigos dos amigos do Napoleão e por aí adiante, recursivamente, ad infinitum (o Napoleão, curiosamente, não está lá: desfruta da sua reforma de cadáver nos Invalides, enfrentando solitário as hordas de pongas fotómanos).
Por outro lado, na capela das Arts et Métiers um Pêndulo mais modesto é rodeado por:
- uma réplica da estátua da liberdade onde um curioso se pode esconder se quiser a assistir a um ritual invocatório que eventualmente decorra durante a noite à roda do pêndulo;
- aviões dos pioneiros pendurados do tecto como gigantescos morcegos mecânicos adormecidos;
- todo o ambiente místico de um cemitério de saber, engenho e inteligência;
- e, não esquecer, um magnífico espécime do Spectrum 48K, como acabado de sair da caixa de esferovite, numa sala ali mesmo ao lado.
Surge uma questão.
Se há dois, qual deles está afinal pendurado no Único Ponto Fixo do universo, eternamente imóvel, hã?! Ai o caraças! Os putos depois fazem perguntas difíceis e um gajo fica encravado, perdem-nos o respeito todo!
domingo, agosto 17, 2003
Banalidade avulsa sobre a Ordem do Universo
Vinha a ler, na linha 6 (Nation - Charles de Gaulle/Etoile), o "W ou le souvenir d'enfance" de Georges Perec (lê-se "pérec" e não "peurec", diz ele):
Plus tard, je suis allé avec ma tante voir une exposition sur les camps de concentration. Elle se tenait du côté de La Motte-Picquet-Grenelle (ce même jour, j'ai découvert qu'il existait des métros qui n'étaient pas souterrains mais aériens).
Nesse preciso instante, o metro parou na estação (não subterrânea mas aérea) de La Motte-Picquet-Grenelle.
Acaso? acto divino? alucinação? macumba? auto-sugestão? psicocinese? conspiração da CIA em conluio com a Maçonaria, por sua vez orquestrada por uma meta-conspiração das Antigas Ordens Templárias integrada no Grande Plano de Conquista do Mundo e Manipulação da Raça Humana engendrado pela mesma civilização milenar extraterrestre que introduziu a escrita na Mesopotâmia, construiu as pirâmides do Egipto do México e do Sudão, Stonehenge, as cabeças da ilha de Páscoa, o complexo de Angkor Watt e o monumento ao 25 de Abril no Parque Eduardo VII, cujos representantes na Terra incluíram entre outros Gilgamesh, Moisés, Akhenáton, Homero, Nabucodunosor, Alexandre o Grande, Aristóteles Sócrates Platão, Imperador Qin, César, Rei Artur e os camaradas da mesa redonda, JC Buda Zoroastro Maomé, Vitautas, Átila o Punto Tamerlão Genghis Cão Kublai Cão Dartacão, Harun al-Rachid, Carlos Magno, Saladino, o Cid, Afonso Henriques D. Diniz Infante D. Henrique Vasco da Gama Camões Pessoa, Dante Cervantes Montaigne Sterne Joyce Kafka Mann Borges Eco Pynchon, Leonardo Rafael Michelangelo Donatello, Nostradamus Bandarra Conde de St-Germain Rasputine Senhora da Ladeira, Bach Beethoven Brahms Bartók Messiaen Lutoslawski, Ivan o Terrível Robespierre Napoleão Estaline Hitler Mao Pol Pot Ceausescu Idi Amin, Nietzche, a mulher do Einstein, Walt Disney, Buñuel Murnau Welles Fellini Kubrik Lynch, David Bowie, os Kennedy, os Bush, George Soros, Bill Gates, Joop van den Ende e John de Mol, João Baião, Vasco Granja e os X-men?
Plus tard, je suis allé avec ma tante voir une exposition sur les camps de concentration. Elle se tenait du côté de La Motte-Picquet-Grenelle (ce même jour, j'ai découvert qu'il existait des métros qui n'étaient pas souterrains mais aériens).
Nesse preciso instante, o metro parou na estação (não subterrânea mas aérea) de La Motte-Picquet-Grenelle.
Acaso? acto divino? alucinação? macumba? auto-sugestão? psicocinese? conspiração da CIA em conluio com a Maçonaria, por sua vez orquestrada por uma meta-conspiração das Antigas Ordens Templárias integrada no Grande Plano de Conquista do Mundo e Manipulação da Raça Humana engendrado pela mesma civilização milenar extraterrestre que introduziu a escrita na Mesopotâmia, construiu as pirâmides do Egipto do México e do Sudão, Stonehenge, as cabeças da ilha de Páscoa, o complexo de Angkor Watt e o monumento ao 25 de Abril no Parque Eduardo VII, cujos representantes na Terra incluíram entre outros Gilgamesh, Moisés, Akhenáton, Homero, Nabucodunosor, Alexandre o Grande, Aristóteles Sócrates Platão, Imperador Qin, César, Rei Artur e os camaradas da mesa redonda, JC Buda Zoroastro Maomé, Vitautas, Átila o Punto Tamerlão Genghis Cão Kublai Cão Dartacão, Harun al-Rachid, Carlos Magno, Saladino, o Cid, Afonso Henriques D. Diniz Infante D. Henrique Vasco da Gama Camões Pessoa, Dante Cervantes Montaigne Sterne Joyce Kafka Mann Borges Eco Pynchon, Leonardo Rafael Michelangelo Donatello, Nostradamus Bandarra Conde de St-Germain Rasputine Senhora da Ladeira, Bach Beethoven Brahms Bartók Messiaen Lutoslawski, Ivan o Terrível Robespierre Napoleão Estaline Hitler Mao Pol Pot Ceausescu Idi Amin, Nietzche, a mulher do Einstein, Walt Disney, Buñuel Murnau Welles Fellini Kubrik Lynch, David Bowie, os Kennedy, os Bush, George Soros, Bill Gates, Joop van den Ende e John de Mol, João Baião, Vasco Granja e os X-men?
quinta-feira, agosto 14, 2003
Paris em Agosto
nesta terra, agosto é o mês mais feio. as parisienses desertaram. o calor, além de matar idosos às centenas, tira a piada toda aos jardins. os museus e monumentos estão infestados de uma praga de pongas fotómanos (se querem tanto a foto da gioconda porque é que não compram a porcaria do postal? de preferência pela internet, a partir do japão). a paris-plage é uma anedota. os festivais de verão são cancelados por causa da greve dos intermitentes do espectáculo. e o pior: não resta um único restaurante tuga aberta onde se possa ver o benfica a levar na pá dos italianos. não não, há UM. mas não servem refeições, só tremoço e chouriço da Terra, o que é verdadeira ambrósia para um emigra esfaimado.
valha-nos a Santa Favela, que ontem teve mais uma noite de antologia com o Gringo da Parada aos comandos. só volto para lisboa quando o Seu Jorge abrir lá uma Favela. tenho dito!
valha-nos a Santa Favela, que ontem teve mais uma noite de antologia com o Gringo da Parada aos comandos. só volto para lisboa quando o Seu Jorge abrir lá uma Favela. tenho dito!
O Blaster e a cauda do pavão
7 de julho um grupo de geeks polacos descobre e divulga uma vulnerabilidade no Windows XP/2000/2003 (um buraco na interface RPC) que permite ganhar o controlo de um computador remoto através da Internet
16 de julho a Microsoft publica no seu site um remendo que tapa o buraco; naturalmente pouca gente o descarrega: ou porque não tem paciência para actualizar o Windows regularmente, ou porque não faz ideia que isso se pode fazer, ou porque tem medo, depois de as agruras da vida lhe terem ensinado que um update do Windows é um bicho perigoso que não se deve enfrentar de ânimo leve e sem um backup de todos os dados importantes
31 de julho o CERT avisa que anda gente a querer espreitar pelo buraco
11 de Agosto o que se esperava há um mês acontece: um tipo com mais miolos que escrúpulos - presume-se que um adolescente borbulhento - lança na Net um verme que encaixa perfeitamente no supracitado orifício; dá-lhe o petit-nom carinhoso de "Blaster"
nota zoocibersociológica: um verme é um bicho que se mete num buraco, trata de se reproduzir lá dentro e depois manda os seus rebentos pela Net para procurar os seu próprios buracos, ganhar independência e formar família (digam lá se não é bonita a cibernética!); por vezes os putos têm pouco sucesso em encontrar um buraco livre e vão-se arrastando em casa do pai até à meia-idade levando por vezes ao colapso das instalações; nestas alturas o Windows vai abaixo
12 de Agosto a minha Amiga Zen telefona a dizer que o computador dela vai abaixo cada vez que se liga à Net; mal sabíamos nós que um multitataraneto do verme que tinha sido criado pelo adolescente borbulhento havia gerado numerosa prole no buraco do seu XP
14 de Agosto é-me revelada a intriga; leio as palavras escondidas na barriga do verme...
...a primeira parte é banal, o costumeiro ataque infantilóide ao papão Gates por ter mais feitos importantes no seu tempo de vida que os que se podem encontrar no somatório das vidinhas ordinárias de metade dos hackers do planeta:
billy gates why do you make this possible ? Stop making money and fix your software!!
...a segunda é bem mais interessante, pondo a nu a motivação primeira do adolescente borbulhento:
I just want to say LOVE YOU SAN!!
Mais uma vez se constata que toda a beleza, a complexidade, a loucura e o génio da criação humana não passam de um elaborado refinamento do comportamento do pavão que ostenta a cauda na tentativa de perpetuar o seu património genético.
16 de julho a Microsoft publica no seu site um remendo que tapa o buraco; naturalmente pouca gente o descarrega: ou porque não tem paciência para actualizar o Windows regularmente, ou porque não faz ideia que isso se pode fazer, ou porque tem medo, depois de as agruras da vida lhe terem ensinado que um update do Windows é um bicho perigoso que não se deve enfrentar de ânimo leve e sem um backup de todos os dados importantes
31 de julho o CERT avisa que anda gente a querer espreitar pelo buraco
11 de Agosto o que se esperava há um mês acontece: um tipo com mais miolos que escrúpulos - presume-se que um adolescente borbulhento - lança na Net um verme que encaixa perfeitamente no supracitado orifício; dá-lhe o petit-nom carinhoso de "Blaster"
nota zoocibersociológica: um verme é um bicho que se mete num buraco, trata de se reproduzir lá dentro e depois manda os seus rebentos pela Net para procurar os seu próprios buracos, ganhar independência e formar família (digam lá se não é bonita a cibernética!); por vezes os putos têm pouco sucesso em encontrar um buraco livre e vão-se arrastando em casa do pai até à meia-idade levando por vezes ao colapso das instalações; nestas alturas o Windows vai abaixo
12 de Agosto a minha Amiga Zen telefona a dizer que o computador dela vai abaixo cada vez que se liga à Net; mal sabíamos nós que um multitataraneto do verme que tinha sido criado pelo adolescente borbulhento havia gerado numerosa prole no buraco do seu XP
14 de Agosto é-me revelada a intriga; leio as palavras escondidas na barriga do verme...
...a primeira parte é banal, o costumeiro ataque infantilóide ao papão Gates por ter mais feitos importantes no seu tempo de vida que os que se podem encontrar no somatório das vidinhas ordinárias de metade dos hackers do planeta:
billy gates why do you make this possible ? Stop making money and fix your software!!
...a segunda é bem mais interessante, pondo a nu a motivação primeira do adolescente borbulhento:
I just want to say LOVE YOU SAN!!
Mais uma vez se constata que toda a beleza, a complexidade, a loucura e o génio da criação humana não passam de um elaborado refinamento do comportamento do pavão que ostenta a cauda na tentativa de perpetuar o seu património genético.
quarta-feira, agosto 13, 2003
Macacos e Shakespeare
Tropecei no blog de um senhor que tem o projecto de fazer música ao calhas (não confundir com música aleatória... ou se quiserdes confundi). Acho muito bem, não tenho nada contra, até porque o faz de borla, no recato do seu lar e com o cuidado de "não acordar a família, que dorme ao lado". Todavia, não posso deixar de associar a isto um famoso argumento: juntando o número suficiente de macacos à frente de máquinas de escrever, mais cedo ou mais tarde um deles acabará por escrever o texto integral do "Hamlet". Alguém se deu ao trabalho de calcular quanto tempo e quantos macacos seriam necessários para que tal tarefa tivesse uma probabilidade não-desprezável de sucesso, tendo obtido resultados pouco animadores. Outros chegaram mesmo a levar a cabo a experiência, tendo concluído que os macacos têm uma inexplicada atracção pela letra "s".
terça-feira, agosto 12, 2003
Tácticas Predatórias do Mosquito: A Melga do Ultramar
A minha querida amiga Filipa que anda emigrada nas profundezas da áfrica mãe-áfrica, dispôs-se também ela participar neste estudo que começa a assumir proporções globais. Em directo da Cidade da Praia, uma contribuição fundamental para essa Alta Ciência que é a culicidiologia:
Ora as melgas cabo-verdianas andem aí. Contrariamente às restantes espécies locais elas não brincam em serviço e trabalham 12 horinhas sem descanso. Não há cá dores de barriga, a graduação da filha, a avó que veio de Sto Antão, as dores de cabeça ou o pai que morreu (pela 3ª vez este ano). Não te consigo aprofundar se são os machos, as fêmeas, "ambos os dois" que atacam mais eficientemente, também não te posso aprofundar sobre quem carrega quem às costas, quem dá de comer aos putos melgas, quem os leva à escola, ou quem põe o "quemer" na mesa (mas na minha opinião acho mesmo que deve ser um trabalho de equipa para a coisa resultar tão bem), posso-te apenas falar de factos. E os factos estão à vista de todos e são as disformes borbulhas que carrego diariamente.
As melgas cabo-verdianas não têm dó nem piedade. O que estiver à mão é o que vai, quer seja no dedão, quer seja o sitio mais desconfortável da cara ou o cotovelo, elas vieram para ficar e não há quem lhes faça sombra. (As baratas com asas cabo-verdianas, segundo me consta, também vieram para ficar, mas têm muito menos arte, muito menos "savoir faire" do que as outras).
Outra característica deste espécimen é o dom da camuflagem. Contrariamente às portuguesas em que o tempo de vida apenas depende do tempo que se aguenta sem acender a luz do candeeiro e empenhar o chinelo na mão, as suas parentes cabo-verdianas primam por levar uma pessoa sã ao desespero às 4.00h da manhã após 15 minutos de chinelo na mão, um cheiro a repelente no quarto capaz de matar uma vaca, e a cama desfeita de servir de escadote. Frequentemente as melgas cabo-verdianas levam a sua melhor. Elas são com certeza a espécie mais evoluída de melgas.
Mas os grandes desafios fazem as grandes invenções e não há lojeca de chinês, loja de ferramentas, ou de artigos variados na grande metrópole que é a Cidade da Praia que não venda rede mosquiteira. "Cá se fazem, cá se pagam"-já dizia a minha porteira. Se o convívio não pode ser são, desinteressado, e uma troca de experiências, então pura e simplesmente não é.
Filipa
Ora as melgas cabo-verdianas andem aí. Contrariamente às restantes espécies locais elas não brincam em serviço e trabalham 12 horinhas sem descanso. Não há cá dores de barriga, a graduação da filha, a avó que veio de Sto Antão, as dores de cabeça ou o pai que morreu (pela 3ª vez este ano). Não te consigo aprofundar se são os machos, as fêmeas, "ambos os dois" que atacam mais eficientemente, também não te posso aprofundar sobre quem carrega quem às costas, quem dá de comer aos putos melgas, quem os leva à escola, ou quem põe o "quemer" na mesa (mas na minha opinião acho mesmo que deve ser um trabalho de equipa para a coisa resultar tão bem), posso-te apenas falar de factos. E os factos estão à vista de todos e são as disformes borbulhas que carrego diariamente.
As melgas cabo-verdianas não têm dó nem piedade. O que estiver à mão é o que vai, quer seja no dedão, quer seja o sitio mais desconfortável da cara ou o cotovelo, elas vieram para ficar e não há quem lhes faça sombra. (As baratas com asas cabo-verdianas, segundo me consta, também vieram para ficar, mas têm muito menos arte, muito menos "savoir faire" do que as outras).
Outra característica deste espécimen é o dom da camuflagem. Contrariamente às portuguesas em que o tempo de vida apenas depende do tempo que se aguenta sem acender a luz do candeeiro e empenhar o chinelo na mão, as suas parentes cabo-verdianas primam por levar uma pessoa sã ao desespero às 4.00h da manhã após 15 minutos de chinelo na mão, um cheiro a repelente no quarto capaz de matar uma vaca, e a cama desfeita de servir de escadote. Frequentemente as melgas cabo-verdianas levam a sua melhor. Elas são com certeza a espécie mais evoluída de melgas.
Mas os grandes desafios fazem as grandes invenções e não há lojeca de chinês, loja de ferramentas, ou de artigos variados na grande metrópole que é a Cidade da Praia que não venda rede mosquiteira. "Cá se fazem, cá se pagam"-já dizia a minha porteira. Se o convívio não pode ser são, desinteressado, e uma troca de experiências, então pura e simplesmente não é.
Filipa
segunda-feira, agosto 11, 2003
Les Ricains
Dizer mal dos americanos (les ricains) é por estes lados o desporto mais popular a seguir ao futebol, ao rugby, ao ciclismo, à pétanque e ao sexo. Tem a vantagem de poder ser praticado nos cafés por onde o parisiense médio se arrasta um terço do seu tempo de vida, o que não se pode dizer das restantes actividades (com a possível excepção do sexo, quando lhes dá para a criatividade (a propósito: sabiam que em França uma cambalhota em que o senhor está em pé e a senhora sobre uma mesa é designada "à la portugaise"? (descobri eu neste filme (não se deve abusar dos parênteses (descobri eu neste blog))))).
Por mais que queira evitar incorrer no mesmo discurso de achincalhamento fácil dos meus anfitriões, há que admitir que por vezes os ricains estão mesmo a pedi-las. Por exemplo: quando prendem um co-piloto da Air France que, exasperado com as humilhações sofridas recorrentemente às mãos dos polícias do aeroporto JFK de Nova Iorque, lhes diz que na verdade é um louco perigoso com uma bomba no sapato, sujeitando-se agora a uma pena de até 11 anos de prisão.
Notas:
1. Felizmente já lhes passou a triste ideia de apostar nos ataques terroristas como se aposta nos cavalos.
2. Já agora, o outro lado do espelho: Paris pelos olhos de um ricain.
Musical Training Aids Memory
Diz a Scientific American que o treino musical desenvolve a memória. Isso explica a minha razoável capacidade de armazenamento. Só não explica porque é que só armazeno informação que seja comprovadamente inútil, indo tudo o que possa ter qualquer interesse, ainda que remoto, directamente para o recycle bin [WARNING: Detector_de_Clichés_v1.2 DELETED piada_gasta_Monopólio001.jok].
quinta-feira, agosto 07, 2003
Análise paisagística comparada
Fui ver o Moulin Rouge ao ar livre, em Montmartre, com Paris aos pés e o Sacré-Coeur nas costas. Pareceu-me uma excelente oportunidade para comparar directamente a Paris inventada no filme com a Paris inventada pelos Parisienses.
Estava cheio ("blindado" em emigrantês), o que a seguinte foto expressa de forma eloquente ainda que potencialmente nociva para a saúde.
Uma árvore de identidade dúbia (most certainly not a larch) tornou o estudo inconclusivo ao bloquear a visão sobre dois dos principais actores arquitectónicos do filme: a Torre Eiffel e o Moulin Rouge.
Foi a da direita, senhor guarda, era capaz de a reconhecer em qualquer lado. La vache!
(desculpe... senhor guarda não... senhor agente.)
Estava cheio ("blindado" em emigrantês), o que a seguinte foto expressa de forma eloquente ainda que potencialmente nociva para a saúde.
Uma árvore de identidade dúbia (most certainly not a larch) tornou o estudo inconclusivo ao bloquear a visão sobre dois dos principais actores arquitectónicos do filme: a Torre Eiffel e o Moulin Rouge.
Foi a da direita, senhor guarda, era capaz de a reconhecer em qualquer lado. La vache!
(desculpe... senhor guarda não... senhor agente.)
quarta-feira, agosto 06, 2003
Cat and Girl
"How submerged can a literary reference be before it drowns?" Julian Barnes (mais coisa menos coisa, não me lembro bem onde)
Gosto do gato e da miúda porque a autora, além de brilhante, não sente obrigação de agradar a ninguém. O único cartoon onde é possível encontrar piadas metendo teorias evolucionistas, romances do Pynchon, bandas alternativas, referências rebuscadas à 2a Guerra ou à poesia ultra-romântica do séc. XIX, reflexões filosóficas e sociais, comentários ao mundo actual e até uma auto-meta-piada formal. Enfim, muito intelectualóide e pós-moderno. I lobe it.
terça-feira, agosto 05, 2003
Descobri que um dos objectos mais marcantes da minha infância é agora peça de museu. Em vez de ficar deprimido por ser assim confrontado com a inexorabilidade do Tempo, enchi-me de orgulho a olhar para aquilo. Se andasse por ali algum cibercatraio nascido depois da separação dos Pixies, tinha-lhe mostrado:
- vês, puto: no meu tempo é que era! regular o volume do gravador com precisão cirúrgica, load aspas aspas, duuuuu ti.....duuuuuuu ieiiiiieiiiiieiiiiiiiiiiii, e mais de meia-hora a rezar para que o Génio Malévolo da Sinclair não mandasse um Tape Loading Error no último instante, meia dúzia de linhas antes de o gráfico ter acabado de carregar. nada destas paneleirices modernas de playstations e o caraças! não, o Spectrum forjava o carácter, se querias diversão tinhas de sofrer primeiro.
De seguida explicar-lhe-ia prolixa e exaustivamente porque é que de todas as teclas manhosas de borracha cinzenta, a "P" era sempre a primeira a ir à vida.
Porque é que todos os velhos confundem a perda da juventude com a degradação do Universo? Não é a comida que não sabe a nada, as papilas gustativas e o olfacto é que são menos sensíveis. Não é o barulho dos vizinhos que aumentou, o sono é que se tornou mais frágil. Não são as festas modernas que não têm interesse, os amigos é que foram morrendo, o engate é que se tornou improvável. Não é a música que é um chinfrim insuportável, os cérebros é que calcinaram.
Chegando a velho pretendo cumprir o meu papel e reclamar de tudo o que for novidade, só para chatear, mas vou saber que não tenho razão.
Notas:
1. o meu trauma de infância é nunca ter conseguido acabar o "Skool Daze"; agora tenho uma segunda oportunidade
2. Todos os homens da minha geração que ainda tremem de terror quando é proferida a palavra "Reinaldo", vão achar piada a esta página
sexta-feira, agosto 01, 2003
Nunca li Jorge de Sena. É pena.
Que útil teria sido esta manhã
Entrando uma loira no RER
(ia para Nanterre),
peitos zombando do morto e da teoria da maçã,
metro e oitenta, nada pequena.
Tivesse eu lido Jorge de Sena
e ela não teria defesa
ia a ler "Sinais de Fogo" em versão francesa
(rima com "tesa" e rima com "mesa"
mas não vou cair nessa fraqueza)
Tivesse eu lido Jorge de Sena.
Nunca li. É pena.
Entrando uma loira no RER
(ia para Nanterre),
peitos zombando do morto e da teoria da maçã,
metro e oitenta, nada pequena.
Tivesse eu lido Jorge de Sena
e ela não teria defesa
ia a ler "Sinais de Fogo" em versão francesa
(rima com "tesa" e rima com "mesa"
mas não vou cair nessa fraqueza)
Tivesse eu lido Jorge de Sena.
Nunca li. É pena.
Perante a alarvidade do meu último post, quero redimir-me com um poema que expõe o meu lado mais sensível e feminino, como as gajas gostam. Já tenho o tema, baseado em factos verídicos.
Linguística Trolha: "imbitable"
O meu colega Patrick, arauto do linguajar gaulês, disse-me ontem que determinada senhora era "imbitable", termo cuja frescura e brejeirice me seduziu de imediato. A sua significação é múltipla: não só serve para qualificar uma senhora que foi traída pela Natureza ("Corinne elle est imbitable" - a Corinne é um festro), como algo que não presta ("la bouffe à la cantine est imbitable" - os morfes na cantina são intragáveis), como algo que é incompreensível ("L'Allemand est imbitable" - não pesco nada de Alemão).
Para avançar no sentido de uma tradução, aponto que esta palavra tem raíz no termo familiar "bite", nf, o que abre um leque de possibilidades imenso. De uma assentada ocorrem-me quarenta palavras novas para a Língua Portuguesa.
As óbvias: impilável, impiçável, impichável
As eruditas: impenizável, insardável, imarsapiável, invergalhável
As ordinárias: incaralhável, intarolável, imporrável, imartelável, inzarolhável
As presunçosas: imbacamartável, imutombável, inanimalável
As traquinas: insarapitolável, impalhaçável, imbisnagável, impincelável, inzètolável, imonstrodasbolachável
As pessoais: inedgarável, infigável, inruicostável
As culinárias: inabável, inlinguiçável, incroquetável, incenourável, impepinável, inchouriçável, imorcelável, inalheirademirandelável, insalamável, imbesugável, inrobalável
Os galicismos: imbitável, inchibrável
Os anglicismos: incocável, indickável (mantém-se o "k" para quebrar o homografia)
O germanismo: inficável
O castelhanismo: impolhável
O italianismo: incazzável (defendo a manutenção do duplo "z" para indicar a pronúncia "tz", tal como em "pizza")
Para avançar no sentido de uma tradução, aponto que esta palavra tem raíz no termo familiar "bite", nf, o que abre um leque de possibilidades imenso. De uma assentada ocorrem-me quarenta palavras novas para a Língua Portuguesa.
As óbvias: impilável, impiçável, impichável
As eruditas: impenizável, insardável, imarsapiável, invergalhável
As ordinárias: incaralhável, intarolável, imporrável, imartelável, inzarolhável
As presunçosas: imbacamartável, imutombável, inanimalável
As traquinas: insarapitolável, impalhaçável, imbisnagável, impincelável, inzètolável, imonstrodasbolachável
As pessoais: inedgarável, infigável, inruicostável
As culinárias: inabável, inlinguiçável, incroquetável, incenourável, impepinável, inchouriçável, imorcelável, inalheirademirandelável, insalamável, imbesugável, inrobalável
Os galicismos: imbitável, inchibrável
Os anglicismos: incocável, indickável (mantém-se o "k" para quebrar o homografia)
O germanismo: inficável
O castelhanismo: impolhável
O italianismo: incazzável (defendo a manutenção do duplo "z" para indicar a pronúncia "tz", tal como em "pizza")