quarta-feira, outubro 01, 2003
Quem manda aqui?
O sistema de ensino público francês, a Education Nationale, é uma máquina monstruosa que emprega mais de um milhão de pessoas. A EN é frequentemente acusada de ser elitista, esclerosada e irreformável. Com razão.
As crianças são em grande medida educadas pelo Estado. Desde muito jovens, por vezes com poucos meses de idade, são enfiadas numa rede de creches tão ubíqua como o metro de Paris e mais do que a rede de caixas multibanco. Como os pais podem deixar as crianças a menos de 50 metros de casa antes de ir para o trabalho (em transportes públicos que funcionam), têm muitos filhos, pouco stress e produtividade elevada. A economia floresce.
Logo a partir da Primária começa a segregação. A colocação nas escolas até ao fim do Liceu é feita pela área de residência e os limites das áreas de residência são cuidadosamente manipulados para ter meninos ricos de um lado e meninos pobres do outro. Começam também as classes especiais para alunos mais avançados.
Existem muitos tipos de ensino secundário alternativo, a vários níveis, que encaminham directamente o aluno à sua futura posição na estrutura social. São especialmente cobiçados os lugares num punhado de liceus públicos no centro de Paris, os grands lycées. As famílias mais abastadas têm casas arrendadas na vizinhança, muitas vezes vazias, só para poder lá inscrever os infantes. O valor das rendas dispara.
No fim do liceu, um exame - o Baccalauréat ou Bac - dá acesso ao ensino superior. Mais uma vez existem vários tipos de Bac. Quem quiser ser alguém na vida tem de fazer o Bac S.
No ensino superior instala-se o caos, as subtilezas entre os tipos de universidade, curso, ou grau, são incompreensíveis para quem vem de um mundo de bacharelato-licenciatura-mestrado-doutoramento. A camada superior toda a gente a conhece: as Grandes Ecoles. Para a elas aceder é necessário um curso preparatório de dois ou três anos que é conhecido pela exigência extrema. Muitos esgotamentos, muitas desistências para viver os melhores anos, muita droga para estimular o cérebro e muito cabelo branco depois, uma pequena escol consegue aceder a instituições como a Ecole Nationale d'Administration (ENA), onde são formadas as elites políticas (os énarques) ou a Ecole Polytechnique, cujos alunos (os X) desfilam nos Champs Elysées a cada 14 de Julho.
Este sistema é socialmente injusto e cria uma sociedade estratificada.
França é dirigida por uma elite arrogante e monolítica.
Portugal é dirigido por chicos-espertos, embrulhões e afilhados.
As crianças são em grande medida educadas pelo Estado. Desde muito jovens, por vezes com poucos meses de idade, são enfiadas numa rede de creches tão ubíqua como o metro de Paris e mais do que a rede de caixas multibanco. Como os pais podem deixar as crianças a menos de 50 metros de casa antes de ir para o trabalho (em transportes públicos que funcionam), têm muitos filhos, pouco stress e produtividade elevada. A economia floresce.
Logo a partir da Primária começa a segregação. A colocação nas escolas até ao fim do Liceu é feita pela área de residência e os limites das áreas de residência são cuidadosamente manipulados para ter meninos ricos de um lado e meninos pobres do outro. Começam também as classes especiais para alunos mais avançados.
Existem muitos tipos de ensino secundário alternativo, a vários níveis, que encaminham directamente o aluno à sua futura posição na estrutura social. São especialmente cobiçados os lugares num punhado de liceus públicos no centro de Paris, os grands lycées. As famílias mais abastadas têm casas arrendadas na vizinhança, muitas vezes vazias, só para poder lá inscrever os infantes. O valor das rendas dispara.
No fim do liceu, um exame - o Baccalauréat ou Bac - dá acesso ao ensino superior. Mais uma vez existem vários tipos de Bac. Quem quiser ser alguém na vida tem de fazer o Bac S.
No ensino superior instala-se o caos, as subtilezas entre os tipos de universidade, curso, ou grau, são incompreensíveis para quem vem de um mundo de bacharelato-licenciatura-mestrado-doutoramento. A camada superior toda a gente a conhece: as Grandes Ecoles. Para a elas aceder é necessário um curso preparatório de dois ou três anos que é conhecido pela exigência extrema. Muitos esgotamentos, muitas desistências para viver os melhores anos, muita droga para estimular o cérebro e muito cabelo branco depois, uma pequena escol consegue aceder a instituições como a Ecole Nationale d'Administration (ENA), onde são formadas as elites políticas (os énarques) ou a Ecole Polytechnique, cujos alunos (os X) desfilam nos Champs Elysées a cada 14 de Julho.
Este sistema é socialmente injusto e cria uma sociedade estratificada.
França é dirigida por uma elite arrogante e monolítica.
Portugal é dirigido por chicos-espertos, embrulhões e afilhados.