quinta-feira, novembro 13, 2003
Castelo Branco

Não conheço, nunca lá estive. Aliás, é de família. Em tempos idos, o meu avô materno prometeu à minha avó (materna, nada de confusões) que havia de levá-la a Castelo Branco. Sempre um romântico, este meu avô. Não foi por falta de empenho, mas a cada tentativa de chegar a Castelo Branco — e foram muitas, ao longos dos anos — uma mão invisível frustrava à última hora os planos cuidadosamente arquitectados. Ainda hoje, várias décadas volvidas, a questão é invocada cada vez que a tensão sobe no casal. Como já li muito Ésquilo, Sófocles e Eurípides (em versão BD, com muitos bonecos, porque as letras cansam-me), tenho consciência de que me é vedado o acesso a essa bela cidade e resigno-me perante a força do destino.
É certo que não tenho qualquer pudor em discutir assuntos que ignoro profundamente, o que é bem patente neste blogue; ainda assim, não vou escrever sobre Castelo Branco. Não, o que eu vou é escrever sobre o Castelo Branco.

Há cerca de 20 anos, o Sr. Castelo Branco morava nos arredores de Lisboa acompanhado por um par de dobermanns (ou será "dobermänner") grandes e maus que se enquadrariam com mais naturalidade nas margens do Estige. Tendo já na altura uma postura que não passava despercebida, o Sr. Castelo Branco era alvo natural da chacota dos discentes do Externato ali ao lado: criancinhas da Primária, amorosas, na idade da inocência, ainda com poucas inibições sociais, que torturam os animais por puro prazer, perseguem constantemente os mais fracos, gozam com o colega deficiente, recorrem gratuitamente à agressão física, em suma, os seres mais cruéis à face da Terra. Pois o mau feitio do senhor estava já perfeitamente formado, apesar da juventude e escassas posses, e a tenra idade dos petizes não constituía obstáculo moral. O Sr. Castelo Branco respondia aos comentários e partidinhas inocentes atiçando os dobermanns às criancinhas com um sorriso deformado pela ira, olhos raiados de sangue e um ou outro fio de baba a escorrer pelo queixo.
Muitos dos pequenotes se tornaram adultos torturados pela existência, traumatizados para sempre.
Alguns escrevem em blogues (The horror! The horror!)
Cada dia que esse meliante passe na prisão é bem merecido.