sexta-feira, junho 17, 2005
A Geração Easyjet
Estreou ontem em Paris "Les Poupées Russes", uma espécie de sequela da "Residência Espanhola" de Cédric Klapisch ("Albergue Espanhol" em emigrantês). Passaram cinco anos e o estudante francês que fazia Erasmus em Barcelona, Xavier (Romain Duris, que tem uma ou duas entradas nos Celebrity Sightings deste blog), está um pouco mais crescido; mas não muito, porque hoje em dia se cresce devagarinho.
Este filme é bem capaz de ser despachado pela crítica como uma comédia geracional ligeira. E a crítica terá razão, porque é mesmo uma comédia geracional ligeira, mas especial, porque a geração é a minha.
Há uma geração europeia cujos novos padrões de vida estão sub-representados na cultura popular (leia-se: não costumamos aparecer nos filmes). Não somos os americanos que moram numa grande cidade afastada da terreola onde nasceram, lutam com os rituais ineptos do dating, só têm dois amigos e vêm a família uma vez por ano, no Thanksgiving. Também já não somos os Europeus de antanho que vivem na cidade natal e fazem ocasionalmente grandes viagens para arejar os neurónios (quando não se estão a deixar massacrar em genocídios.)
Somos ligeiramente diferentes, o suficiente para proporcionar um manancial de estereótipos praticamente inexplorado. Chamemos-lhe a geração Erasmus, a geração Inter Rail, a geração Eurostar ou Geração Easyjet. É um gajo -- também pode ser uma gaja, mas nesta geração já não sentimos necessidade dessas distinções porque entre nós a igualdade entre os sexos está adquirida e posso usar um gajo como exemplo sem ter me preocupar em ferir sensibilidades -- é portanto um gajo que nasceu num país, cresceu noutro e trabalha em dois ou três ao mesmo tempo, que muda de casa (e se for preciso de cidade ou de país) como quem muda de sapatos. É um gajo que evita acumular possessões materiais porque já sabe a trabalheira que elas dão quando chaga a hora da mudança. É um gajo que faz uma mala de viagem em dez minutos (se não for obrigado a passar camisas) e nunca chega a repor as utensílios de higiene pessoal no armário da casa de banho. É um gajo que no fim de semana vai visitar os amigos a Amesterdão, Genebra ou São Petersburgo, sendo o único critério de escolha do destino a melhor promoção para essa semana. É, sobretudo, um gajo que fala três línguas diferentes com a namorada (cinco ou seis se incluirmos todas as namoradas) , em que a língua escolhida em cada momento define a relação de forças no casal e em que nascem permutas tão idiotas como:
Este filme é bem capaz de ser despachado pela crítica como uma comédia geracional ligeira. E a crítica terá razão, porque é mesmo uma comédia geracional ligeira, mas especial, porque a geração é a minha.
Há uma geração europeia cujos novos padrões de vida estão sub-representados na cultura popular (leia-se: não costumamos aparecer nos filmes). Não somos os americanos que moram numa grande cidade afastada da terreola onde nasceram, lutam com os rituais ineptos do dating, só têm dois amigos e vêm a família uma vez por ano, no Thanksgiving. Também já não somos os Europeus de antanho que vivem na cidade natal e fazem ocasionalmente grandes viagens para arejar os neurónios (quando não se estão a deixar massacrar em genocídios.)
Somos ligeiramente diferentes, o suficiente para proporcionar um manancial de estereótipos praticamente inexplorado. Chamemos-lhe a geração Erasmus, a geração Inter Rail, a geração Eurostar ou Geração Easyjet. É um gajo -- também pode ser uma gaja, mas nesta geração já não sentimos necessidade dessas distinções porque entre nós a igualdade entre os sexos está adquirida e posso usar um gajo como exemplo sem ter me preocupar em ferir sensibilidades -- é portanto um gajo que nasceu num país, cresceu noutro e trabalha em dois ou três ao mesmo tempo, que muda de casa (e se for preciso de cidade ou de país) como quem muda de sapatos. É um gajo que evita acumular possessões materiais porque já sabe a trabalheira que elas dão quando chaga a hora da mudança. É um gajo que faz uma mala de viagem em dez minutos (se não for obrigado a passar camisas) e nunca chega a repor as utensílios de higiene pessoal no armário da casa de banho. É um gajo que no fim de semana vai visitar os amigos a Amesterdão, Genebra ou São Petersburgo, sendo o único critério de escolha do destino a melhor promoção para essa semana. É, sobretudo, um gajo que fala três línguas diferentes com a namorada (cinco ou seis se incluirmos todas as namoradas) , em que a língua escolhida em cada momento define a relação de forças no casal e em que nascem permutas tão idiotas como:
Wendy, a inglesa - J'ai fini!
Xavier, o francês - Super bueno!...